sábado, 24 de julho de 2010

Tio do adolescente J. - da entrevista à Rádio Tupi denunciando toda trama"

Belo Horizonte - O Ministério Público, por meio do promotor Leonardo Barreto Moreira Alves, considera ter provas suficientes para que a Justiça sentencie à pena máxima prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) o menor J. - primo do goleiro Bruno Fernandes de Souza -, por participação no sequestro seguido de cárcere privado da modelo Eliza Samudio. Apesar da avaliação, divulgada depois da audiência de instrução do processo contra J., ontem, no Juizado da Infância e da Juventude de Contagem, Grande BH, o representante do MP admite haver poucos indícios para acusá-lo de homicídio e ocultação de cadáver. É a primeira vez que uma das autoridades ligadas às investigações do sumiço e suposto assassinato da ex-amante do jogador assume a falta de provas para que um dos suspeitos seja condenado pelos dois crimes mais graves. A avaliação do promotor pode ser um dos motivos para o sorriso largo estampado no semblante de Bruno, ao deixar o juizado, sob um coro que repetia a palavra "assassino".


Na saída do Juizado da Infância e da Juventude de Contagem, Bruno dá um sorriso largo, mesmo aos gritos de curiosos que se amontoavam no local chamando-o de "assassino" Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press
À noite, uma emissora de televisão divulgou um vídeo feito clandestinamente dentro da prisão. Bruno aparecia dizendo que vai processar o Estado pelo o que está acontecendo com ele.

Ainda ontem, o promotor da Infância e da Juventude reiterou que, no caso da falta de provas comprovando a materialidade direta do homicídio, depoimentos de testemunhas e confissões são considerados suficientes para condenações. Mas, no caso específico do adolescente, os dois únicos depoimentos - de Sérgio Rosa Sales, também primo de Bruno, e do menor - não o incluem na cena do crime. Por isso, na avaliação do representante do MP, J. estaria isento da acusação de assassinato, que teria sido comandado por Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, e por Luiz Henrique Ferreira Romão, Macarrão.

Como o testemunho do adolescente aparece até agora como principal indício contra Bruno, a interpretação do promotor de Contagem pode indicar que a polícia terá dificuldade para implicar o goleiro na suposta morte de Eliza. Reforça a hipótese o fato de que, apesar de toda a trama envolver o jogador de futebol, os testemunhos também isentam Bruno de presença no local do suposto assassinato. No caso dos suspeitos maiores de idade, uma eventual condenação por sequestro teria pena mais branda que a de homicídio qualificado. O primeiro crime prevê reclusão de oito a 15 anos; o segundo, de 12 a 30 anos.

A avaliação do promotor foi feita ontem, em entrevista depois da audiência de instrução do processo contra J. Presentes por uma hora e vinte e quatro minutos no Juizado da Infância e da Juventude de Contagem, Bruno, Macarrão e Bola recusaram-se a falar - mais uma vez sob o argumento de não produzir provas contra si mesmos - e permaneceram pouco mais de cinco minutos, cada um, na sala de audiência. Sérgio, primo de Bruno, voltou a depor, mas, na condição de informante, não é obrigado a dizer a verdade. A outra testemunha, o tio do adolescente J. - que em entrevista à Rádio Tupi denunciou toda a trama - depôs no Rio e cópia do testemunho foi encaminhada, por fax, ao juiz de Contagem Elias Chabil, que deve anexá-la ao processo. Não estava previsto depoimento do menor, que já tinha sido ouvido, mas poderia ser chamado a prestar esclarecimentos em caso de contradições.

A partir da audiência, o MP teria 24 horas para apresentar alegações finais com os argumentos para que J. seja sentenciado. Em seguida, é dado o mesmo prazo à defesa. Assim, o promotor considera que até a próxima semana o juiz deve dar a sentença do adolescente, apesar de ainda haver 35 dias de prazo para isso.

Condenação - Nos depoimentos, que devem ser citados nas alegações finais do promotor, Sérgio confirma que Eliza chegou ao sítio de Bruno, em Esmeraldas, na Grande BH, ferida, levada por Macarrão e pelo adolescente. "A violência aplicada no sequestro já permite uma pena rígida", diz Barreto em relação à internação do menor. Segundo ele, se o juiz aplicar a medida socioeducativa, J. permanece internado por seis meses. Encerrado o prazo, é feita reavaliação. O prazo máximo para a internação é de três anos.

Já o advogado Eliézer Jônatas Almeida Lima, que defende o adolescente, argumenta que não houve qualquer menção ao sequestro e Macarrão teria chamado J. para dar um "susto" em Eliza.

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